domingo, 28 de agosto de 2011

No íntimo, somos todos lamarckistas

Depois da forte reação inicial à proposta da seleção natural, lançada em meados do século 19 por Charles Darwin (1809-1882), os biólogos e filósofos em geral gradualmente acalmaram-se. Hoje em dia, com a exceção de uma minoria criacionista, o modelo de Darwin soma um grande número de adeptos nos meios científicos e a maior polêmica no momento parece restringir-se à interpretação dessa hipótese. No entanto, apesar de intelectualmente aceitarmos o evolucionismo darwiniano, no nosso âmago, quando baixamos a guarda, somos aparentemente lamarckistas.

Isso pode ser constatado em conferências e aulas, ou através da leitura de livros didáticos dirigidos a todas as áreas das ciências biológicas, incluindo mesmo os mais atualizados livros de biologia. Como exemplo típico, destaco um trecho, de um conceituado livro de bioquímica, a respeito da ocorrência de hemoglobina em organismos mais complexos.

Os autores comentam que a simples difusão passiva de O2 é suficiente para oxigenar organismos muito pequenos, e argumentam: "Já que a velocidade de transporte de uma substância difusora varia inversamente com o quadrado da distância a ser percorrida, a velocidade de difusão através de tecidos que têm uma espessura maior que 1 mm é lenta demais para sustentar a vida." Em seguida, concluem: "Portanto, a evolução de organismos maiores e mais complexos como os anelídeos (por exemplo, minhocas) requereu o desenvolvimento de sistemas de transporte que transportam o O2 ativamente."

Ora, a tradução dessa necessidade de desenvolver um sistema de transporte não difere em nada dos sentiments intérieurs que, segundo Jean-Baptiste Pierre Antoine de Monet Lamarck (1744-1829), promoviam e direcionavam a evolução. Essa tendência finalista não é rara e reflete eloqüentemente um lapsus linguae que todos cometemos periodicamente.

Outra versão da mesma situação é a afirmação de que tal reação, tal sistema, ou tal organela 'serve' para isso, ou para aquilo. Se aceitarmos o argumento de que na natureza algo serve para alguma coisa, estaremos concordando implicitamente com uma função. Conseqüentemente, estaremos advogando a causa de William Paley (1743-1805), que em 1802 escreveu sua influente obra Teologia natural ou evidências da existência e atributos da divindade compilados da natureza.

A analogia mais famosa de Paley é aquela que descreve seu encontro casual com um relógio. Ele raciocina que aquele intrincado mecanismo servia a uma função específica e vai além, afirmando que se existe um relógio, existe também um relojoeiro. O ser vivo estaria sujeito ao mesmo tipo de analogia envolvendo criatura e criador. Mais tarde Darwin, que havia lido a obra de Paley quando ainda jovem, reverteria tais argumentos e os usaria como munição para sua própria teoria.

Não surpreende, portanto, que Lamarck tenha deixado uma profunda marca em nossa percepção da natureza. O culto teleológico contido na sua visão é mais intuitivo dentro de nossa lógica formal, mecanicista. Além disso, o lamarckismo inconsciente também é martelado em nossas cabeças desde o ensino fundamental. Praticamente todos os livros de ciências, quando tratam dos seres vivos, adotam como dispositivo didático o "existir para servir a alguma função". Ou ainda que "a natureza é sábia".

A alternativa não é tão atraente e por isso mesmo mais difícil. Como darwinistas estritos, não poderíamos jamais pensar em termos de função e de finalismo. Teríamos que supor que as coisas e os organismos existentes -- ou que já existiram - são apenas o fruto da evolução de ciclos de reações, cujos reagentes encontravam-se presentes na Terra desde os seus primórdios.

Tampouco há direção ou mesmo perfeição nessa evolução. Os eventos que produziram a natureza, tal e qual a conhecemos hoje, são essencialmente aleatórios e, é claro, subjugados ao ambiente. Em outras palavras, tudo o que acontece é somente o que é permitido pelas leis da física.

Talvez, assim como no filme Matrix, onde toda a realidade humana é apenas uma construção intelectual, o nosso lamarckismo subjacente seja só uma tentativa de dar coerência a nossos sentidos.

Franklin Rumianek.

Ciência Hoje 200, dezembro 2003



por Ayling Ng

sexta-feira, 19 de agosto de 2011

Depois da polinização e no amadurecimento dos frutos: ETILENO!


Produção: praticamente em todas as células, inclusive naquelas danificadas.

Abundante após a polinização e durante o amadurecimento dos frutos.

Uma banana madura produz muito etileno, por isso quando a colocamos junto com outras frutas verdes, ela ajuda a acelerar o amadurecimento. Os floricultores evitam expor as frutas à ação dessa substância para retardar seu amadurecimento, ou isso pode ser feito enriquecendo o ar com gás carbônico (antagonista dos efeitos do etileno) o que dificulta a oxigenação das frutas, reduzindo a taxa de produção de etileno.

O etileno está envolvido também com a abscisão (queda) de folhas e frutos, iniciado com a redução de AIA ma folha e posterior produção de etileno. Ele estimula a síntese de celulase, enzima que digere as parede celular das células na região do pecíolo, onde ocorrerá a abscisão.

Fonte: material em mídia elaborado e fornecido pela Professora Ornólia Paracampos com contribuições dos sites sobiologia.com.br e mundoeducacao.uol.com.br

por Ayling Ng

quarta-feira, 17 de agosto de 2011

Citocininas, Giberelinas e Ácido Abscísico

Citocinina: ajudando na adaptação!
A citocinina controla a expressão de genes envolvidos na indução de mudanças fisiológicas e morfológicas, extremamente importantes para que a planta se adapte a condições adversas do meio.
Produção nas raízes e transporte pelo xilema para todas as partes da planta
Ação:
  1. estimula a divisão celular e o crescimento das gemas laterais, ao contrário das auxinas. As gemas laterais mais baixas saem da dormência antes das mais altas, pois estão mais perto da raiz, onde ocorre a produção das citocininas.
  2. evita a senescência e retarda o envelhecimento da planta (uso comercial)
  3. em associação com as auxinas:
  • no controle da dominância apical, os dois hormônios são antagônicos (auxina inibe citocinina)
  • na cultura de tecidos: auxina + citocinina = formação de calos (massa de célula); mais auxina que citocinina = calo forma raízes; mais citocinina que auxina = calo forma brotos

Giberelinas: ajudam no crescimento da planta!

As giberelinas derivam do ácido giberélico. É produzido nas raízes e partes jovens da planta e é um hormônio de muito interesse comercial devido a suas ações.

Ação:

  • estimulam o crescimento do caule, folhas, flores e frutos
  • estimulam a partenocarpia, junto com as auxinas
  • quebram a dormência da semente, junto com as citocininas, acelerando a germinação uniforme das plantações

Ácido Abscísico: inibe o crescimento para poteger a planta!

O ácido abscísico inibe o crescimento das plantas no sentido de potegê-la nos períodos desfavoráveis.

Produção nas raízes, caule e folha e transporte pelo xilema e pelo floema.

Ação:

  • dormência das gemas do caule
  • queda das folhas
  • bloqueio do crescimento das plantas no inverno
  • inibição da germinação das sementes (algumas sementes de ambientes secos só germinam após muita chuva, que remove o ácido abscísico)
  • fechamento dos estômatos
  • favorecimento do transporte de fotossintetizados das folhas para as sementes e, portanto, da síntese de reservas nutricionais

segunda-feira, 15 de agosto de 2011

AUXINAS – primeiro fitormônio descoberto!

Aproveitando o tema botânico do post anterior, vamos falar essa semana dos hormônios vegetais, começando pelas auxinas, o primeiro fitormônio descoberto!
Origem: ácido indolacético (AIA)
Produção: meristemas e partes jovens
Funções: crescimento da raiz e do caule, dependendo da concentração
Movimentos de tropismo: fototropismo + no caule e - na raiz
Uma dose ótima para estimular o crescimento do caule
pode inibir o crescimento da raiz
  • A raiz e o caule de uma mesma planta reagem de forma diferente ao mesmo hormônio: a dose ótima para o crescimento da raiz é inferior à dose ótima para crescimento do caule, ou seja, a raiz é mais sensível à ação do AIA.
  • A dose ótima para o crecimento do caule é inibitória para o crescimento da raizx e também inibe o crescimento das gemas laterais.
A aplicação das auxinas sobre a superfície do caule promove a formação de raízes adventícias, o que é útil na propagação vegetativa por meio de estacas.
A auxina sintética é utilizada como herbicida e atua somente em plantas eudicotiledôneas
O nível de auxinas nos tecidos ovarianos sobe sensivelmente com a fecundação, promovendo o desenvolvimento do fruto.
Partenocarpia
é o desenvolvimento de ovários sem que tenha ocorrido formação de sementes, muito comum na natureza, como no caso da banana. A auxina da parede do ovário e também dos tubos polínicos garante o crescimento do fruto. Artificialmente, é possível produzir frutos partenocárpicos aplicando-se auxina diretamente nos ovários e retirando-se os estames para evitar a polinização. Isto é feito para se obter tomates, uvas e melancias sem sementes.
Fonte: adaptado do material em mídia elaborado e fornecido pela professora Ornólia Paracampos, com contribuições dos sites sobiologia.com.br e mundoeducacao.uol.com.br
por Ayling Ng

domingo, 7 de agosto de 2011

Plantae - Aquisições Evolutivas


Olá a todos,
Hoje eu gostaria de trabalhar com vocês um conteúdo que está relacionado com os assuntos do módulo de botânica que estamos estudando. A conquista do ambiente terrestre pelas plantas foi um fator muito importante durante o curso da evolução que alterou a fisionomia da biosfera,  possibilitando a evolução de outros organismos. 

 
Acredita-se que as plantas evoluíram de um grupo antigo de Algas Verdes devido a várias características que esses dois grupos compartilham. Esse não será o foco do nosso estudo. Vimos que as plantas tiveram uma série de aquisições evolutivas para obterem sucesso no ambiente terrestre. A primeira delas, que garantiu às plantas uma menor dependência da água foi uma cama de células estéreis revestindo gametângios e esporângios. A segunda diz respeito a retenção do zigoto dentro do gametângio feminino nos estágios iniciais, conferindo maior proteção a este embrião. Essas duas características permitiram a evolução do primeiro grupo de plantas, as Briófitas. As Briófitas são plantas simples e não apresentam vasos condutores, o que torna a distribuição de substâncias no corpo da planta dependente da difusão, impossibilitando a essas plantas alcançarem tamanhos grandes.

 
Briófita

 A terceira característica que deu origem às Pteridófitas foi a aquisição de vasos condutores de substâncias, o xilema e floema. As Pteridófitas descendem de um grupo antigo de Briófitas. Esse sistema de vasos permitiu a essas plantas alcançarem tamanho maior, justamente por não dependerem da difusão. Além disso, essas plantas tornaram-se mais independentes da água.

Pteridófita

A quarta aquisição das plantas que deu origem às Gimnospermas foi a semente. A semente tem capacidade de sobrevivência, conferindo ao embrião maior proteção, fonte de alimento durante a germinação e estabelecimento. Isso, com certeza garantiu um grande sucesso evolutivo a esse grupo. As Gimnospermas descendem de um grupo antigo de Pteridófitas.

  
Gimnosperma

A quinta e último aquisição foram as flores e frutos que deu origem às Angiospermas. As angiospermas descendem de um grupo antigo de Gimnospermas. A aquisição de flores e frutos proporcionou maior capacidade reprodutiva às angiospermas, e maior capacidade de dispersão pelo ambiente terrestre. As angiospermas é o grupo de plantas de maior diversidade ( número de espécies) e de grande abundância nas regiões tropicais.


 Angiosperma



Espero ter sido claro, até a próxima!


Por Vinicius Costa


Referências:
LOPES, S.; ROSSO, S. Biologia, São Paulo: Saraiva, 2005. Volume Único.
RAVEN, P. H., EVERT, R. F., EICHHORN, E. S..Biologia Vegetal. 5ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan. 1996